Músico também tem hora pra parar?

Compartilhar A pergunta é inevitável após mais um polêmico show dos Guns N' Roses. A banda de Axl Rose foi escalada para fechar a quarta versão do Rock in Rio em terras brasileiras e novamente foi vítima de um fogo cruzado entre elogios cegos dos fãs mais fanáticos e críticas duras dos que consideram o grupo um cover trágico do que o Guns foi um dia.

O que mais me espanta nesses momentos é a dificuldade de alguns em analisar os fatos e o que há de concreto nisso tudo. Acho que nem um espetáculo inesquecível e nem uma tragédia lamentável, o Guns atualmente é uma banda correta, que não passa vergonha, faz 100 mil pessoas cantarem por mais de duas horas e vive de clássicos de rara qualidade produzidos ao longo dos anos.

Axl Rose pode ser polêmico, pode ser O mala, pode ser chato, mas eu sinto falta desse tipo de personalidade no mundo atual. Principalmente no mundo do rock. Essa é outra conversa. A principal questão que assombra as apresentações de Axl é sempre: tá gordo e não canta nada. Sou da opinião que esse cara foi uma das vozes mais marcantes da história do rock. Isso lhe custou caro após quase duas décadas de apresentações intensas.

Acredito que o problema central não está no fato de ele estar gordo. Nem para o Ronaldo, que é atleta, isso foi problema enquanto ele marcava gols. A questão aqui é justamente essa, muita gente acha que Axl Rose já não "marca gols" como antes. E o que eu não consigo entender é a dificuldade que algumas pessoas têm em entender que aos 50 anos é muito difícil manter o pique e a voz dos 25. A situação fica ainda mais grave para alguém que abusou tanto da voz e ao mesmo tempo das drogas e do álcool. Ele não é o mesmo, mas já esteve pior. Ele não é o mesmo, mas quem é?

Para tentar explicar isso vou dar dois exemplos. Primeiro aquele que é, pra mim, um dos maiores nomes da história do rock. Robert Plant foi vocalista do Led Zeppelin e eternizou alguns dos maiores clássicos do rock na sua voz. Há alguns anos ele recusa propostas para uma nova turnê. Não é bobo, sabe que depois dos 60 é impossível repetir o que ele já fez um dia. Mesmo assim, ele faz shows com suas bandas atuais e canta músicas do Led em ritmo muito, mas muito mais lento, com as notas que um velhinho do rock pode alcançar. É isso. E quem vai falar pro cara não cantar mais Led? E que fã não gostaria de ver isso? Veja a diferença nos vídeos:

Em 1979

E 31 anos depois...


Acho que dificilmente vamos encontrar alguém que prefira o Robert "atual".

Justificada a questão da idade, ainda que a de Axl seja bem menor, vamos exemplificar a questão "física". E nesse sentido nem há muito o que falar. Óbvio que todos gostariam de ver um Axl correndo freneticamente de um lado para o outro. Aquele menino quase que puro osso com os logos cabelos voando durante todo o show. Mas, em muitos casos, simplesmente não é assim que as coisas acontecem. Elvis não me deixa mentir.

Em 1960

e em 1977...


Claro que é muito mais triste ver Elvis em 1977, desse tamanho. Mas bem pior é não ter visto nada.

Se Slash não está mais no Guns, lembre-se que até o Queen já fez uma turnê sem Freddie Mercury. Depois disso, pode tudo. Certas músicas são muito maiores do que as pessoas que as compuseram ou as tocaram um dia. Certos nomes na história da música valem apenas pela presença no palco.

Debaixo de chuva, por mais de duas horas, Axl levou o público ao delírio com as músicas do Guns. A banda, que foi uma das maiores do mundo um dia, hoje, é apenas uma banda que ainda tem plena capacidade de fechar o festival em grande estilo. Talvez pouca coisa depois do Guns tenha surgido com tamanho suficiente pra encerrar um Rock in Rio. Se você discorda, é aquela coisa, o Ronaldo só joga se for escalado por alguém, e daí a culpa não é dele...

Pra fechar, coloco os três vídeos do Guns cantando Paradise City no Rock in Rio de 91, 01 e 11, em matéria feita hoje pelo O Globo. Acho que fica claro que depois do espetáculo de 1991 e do quase desastre de 2001, Axl voltou e faz o que é possível, aos quase 50 anos. Não que ele esteja preocupado com isso, mas deixem o cara cantar as músicas DELE em paz.

1991


2001


2011


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