segunda-feira, 25 de julho de 2011

Em um mundo chato, Amy foi uma gota de esperança para a música e entra para o "Clube dos 27"

Compartilhar Difícil encontrar algo que ainda não tenha sido falado sobre a morte de Amy Winehouse no último sábado (23). Então usarei esse espaço para dar minha opinião sobre a curta carreira da cantora e destacar algumas curiosidades sobre o Clube dos 27.

Talvez nada nos últimos cinco anos tenha sido tão significativo para o mundo da música quanto a vida de Amy Jade Winehouse. Não sou daqueles que achava a britânica o maior nome da música do século. Muito menos dos que, agora, a consideram a maior artista desta geração. Os motivos são simples. Primeiramente é muito difícil dizer que tal pessoa é melhor do que outra. Isso fica ainda mais absurdo quando falamos de um século que está, digamos, no começo. Mas a grande questão, ao meu ver, é a própria carreira de Amy, que, mesmo se comparada aos outros artistas que morreram aos 27 anos, foi muito curta.

Mas qual o motivo pra eu considerar que pouca coisa nos últimos anos foi tão significativa quanto Amy? Simples. O mundo hoje está chato. Não sou defensor do consumo de drogas, álcool ou seja lá o que for. Pelo contrário. Mas, em 99% dos casos, a genialidade humana se manifesta a partir de uma dificuldade. Não tenho dúvidas que Amy teve sua genialidade despertada por um relacionamento amoroso extremamente turbulento que culminou com o abuso das drogas e da bebida. Quem discorda pode ouvir o álbum Frank, de 2003, e depois Back to Black, de 2006, para tirar as próprias conclusões. Discordar é hipocrisia pura.

Não gostaria de ver mais uma grande artista derrotada pelas drogas. Assim como não desejo que um poeta sofra de amor para fazer uma grande poesia. Mas, infelizmente, é muito difícil ser Keith Richards. Amy não foi, e entrou assim para o Clube dos 27. E alguém que, nesse mundo chato, entra para esse clube com a história dessa britânica, merece muito respeito.

Como disse anteriormente, Amy teve momentos brilhantes. Algumas grandes composições, musicalidade acima da média para os padrões atuais, interpretação única e fenômeno de mídia. Que me perdoem os chatos, mas sobram mocinhos na música, sobram mocinhos no mundo, faltam Amys. Agora, ela está livre dessa caretice. A cantora mostrou que, sim, ainda em 2011, é possível bater de frente com gravadoras, cantar músicas sem letras decoradinhas e fazer shows totalmente diferentes e inesperados. É possível surpreender. Mesmo que isso possa custar sua vida.

Foi tudo muito intenso, mas foi pouco. Dois álbuns, alguns hits e muitos escândalos. Musicalmente não a considero um dos maiores nomes da história, mesmo reconhecendo alguns momentos de genialidade. Já como artista, é difícil não reconhecer a grande importância de Amy. Certamente é muito mais fácil ser Justin Bieber do que Amy Winehouse. Mas prefiro uma artista sincera, talentosa e frágil do que um produto de mídia pobre, vazio, ainda que, muito provavelmente, bem mais duradouro.

Clube dos 27

Morto em 1938, o blues man Robert Johnson é geralmente citado como o "fundador" do clube dos grandes artistas que morreram aos 27 anos. Em 1969 foi a vez do guitarrista Brian Jones, dos Rolling Stones, entrar para o time. Mas o clube só ganhou notoriedade de fato quando, entre setembro de 1970 e julho de 1971, três grandes nomes da música morreram com essa idade. Simplesmente Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Mais tarde, em 1994, o jovem símbolo de sua década, Kurt Cobain, morreu com a mesma idade. Assim, Amy se junta a um time de respeito.

Mas, além dos sempre citados membros desse grupo, há mais artistas de relativa expressividade no mundo da música que morreram aos 27 anos e raramente são lembrados. O guitarrista da banda Canned Heat, Alan Wilson, morreu com esta idade em 1970. Outro guitarrista de blues, Leslie Harvey, da banda Stone the Crows, morreu aos 27. Também partiram aos 27 o tecladista do Grateful Dead, Ron "Pigpen" McKernan, em 1973, o líder do Badfinger, Pete Ham, em 1975, o baixista do The Stooges, Dave Alexander, em 1975, um dos baixistas do Uriah Heep, Gary Thain, em 1975, o guitarrista do Big Star, Chris Bell, em 1978, e a baixista das bandas Hole e Janitor Joe, Kristen Pfaff, em 1994.

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Nos vídeos, dois momentos que ilustram bem o que foi Amy Winehouse. O primeiro é de Tears Dry on Their Own, do álbum Back to Black. No segundo, ela canta Cupid, originalmente interpretada por Johnny Nash.

3 comentários:

  1. Não sou defensor do consumo de drogas, álcool ou seja lá o que for. Pelo contrário. Mas, em 99% dos casos, a genialidade humana se manifesta a partir de uma dificuldade.

    é muito difícil ser Keith Richards

    Que me perdoem os chatos, mas sobram mocinhos na música, sobram mocinhos no mundo, faltam Amys.

    prefiro uma artista sincera, talentosa e frágil do que um produto de mídia pobre, vazio, ainda que, muito provavelmente, bem mais duradouro.

    OPS, CONTRADIÇÃO: Você é bastante a favor de drogas. Que pena.E se não é A FAVOR, contra também não é. O que você fez aqui nesse texto é reconhecer o VALOR desse mundo infeliz das drogas. Que triste.

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  2. E que me perdoem os igualmente chatos: preferia a Amy de 2003, mais modesta, mas feliz e, muito provavelmente, mais duradoura. Ah,sim e mais VIVA também.

    http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1668305-9798,00-DE+MENINA+CERTINHA+A+CANTORA+POLEMICA+A+TRANSFORMACAO+DE+AMY+WINEHOUSE.html
    porque ISSO AQUI é LASTIMÁVEL demais pra eu, no meu completo egoísmo e ignorância, ficar desejando um mundo menos 'chato'.

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  3. Caro anônimo,
    talvez eu não tenha sido claro ao relatar minha opinião. Por isso, devo desculpas.

    Mas meu ponto é o seguinte. Infelizmente acho sim que as dificuldades provocam os grandes momentos de genialidade dos humanos, seja na música, no cinema, na ciência, etc. Dificilmente um artista criado por uma gravadora terá um trabalho autêntico e suficientemente bom.

    Infelizmente, a carreira de sucessos aliada a dificuldades pessoais faz com que muitos acabem no mundo das drogas. E nesse ponto, mais uma vez infelizmente, é muito difícil ser Keith Richards, um cara que abusou o quanto pode delas e está vivo e produzindo música até hoje.

    Quando falo de mocinhos e de mundo chato é sobre outra questão. Esse politicamente correto que hoje é algo além de insuportável. Tudo se resolve na Justiça. Os jovens estão abusando das drogas em festa e acham isso legal e depois muitos criticam a Amy por ter feito exatamente a mesma coisa. Por que é tão difícil entender que ela talvez seja apenas um reflexo da nossa sociedade atual? Por que é tão difícil entender que ela tem um problema de saúde? E por que ela não pode levar a vida dela, com os problemas dela, sem que as pessoas fiquem lhe apontando o dedo? Sobram mocinhos, pessoas que fazem exatamente a mesma coisa que ela, mas por não serem doentes, passam por bonzinhos.

    Pelo menos Amy foi uma grande artista, foi autêntica e nunca escondeu seu problema. Foi polêmica, sincera. Não ficou enganando seus fãs como mais uma artistinha qualquer.

    Espero ter deixado claro agora.

    Um abraço

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